sexta-feira, 27 de maio de 2011

     Estava à beira de escrever uma longa "história"... Mas se o fizesse estaria a admitir que essa história existe quando na realidade não existe porque não pode existir. E felizmente nunca acontecerá... É impossível e que seja impossível... Porque é assim que tem de ser.

     Ellen

sábado, 21 de maio de 2011

Caminho sem fim

     Escrevo palavras que não sei se fazem sentido, que aparecem na página pintada de branco como que escritas por mãos de outrem, pensamentos que não são meus mas sim roubadas de alguém e no entanto, sentidas por mim também.
     Dói... Porque sim e apenas porque sim. Se pudesses olhar para ti neste momento e ver a tristeza que se reflectem nos teus olhos, se pudesses sentir os teus passos que caminham sozinhos por aquela estrada sem fim, sempre o mesmo caminho sonhando que talvez depois da próxima curva apareça algo diferente, esperando que talvez, se sempre continuares a andar, um dia chegarás ao fim e encontrarás aquilo que tanto desejaste, aquilo pelo que sempre lutaste e não te dás conta que o fim é igual a tudo o resto... E as voltas que dás são sempre as mesmas, tropeças sempre pelas mesmas pedras e andas sempre à beira do mesmo precipício. Sim se pudesses ver-te agora tenho certeza que ficarias triste por ver alguém tão triste como tu.
     Porque de um momento para outro as coisas mudam, querias tanto que mudassem e no entanto, tudo parecia ser o mesmo e agora mudou e o que virá daí? Era esta a mudança que querias?
     O céu ficou escuro e começa a trovoada e a chuva cai como se estivesse zangada, talvez corra para o abrigo, ou quem sabe, talvez fique aqui fora a ver a chuva cair e "ver-te" caminhando no meio dela como se já nada importasse e dói tanto ver-te carregar toda a tristeza do mundo, e no fundo eu tenho esperança que a cega seja eu, não sei, mas se calhar, carregas a tristeza toda nas tuas costas para levá-la para bem longe, para o fim daquele caminho que é só teu e então, quem sabe, então talvez te relembres o que é ser feliz.

Ellen

domingo, 15 de maio de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 (cont.) - A História de Anny

Anny sempre sonhara em um dia abrir a sua própria galeria mas as coisas não estavam fáceis. Trabalhava grande parte da semana numa empresa de multimédia e fazia quadros no seu tempo livre que vendia ao homem que já foi referido na história, que lhe pagava muito mal.
     De vez em quando algumas pessoas pediam-lhe para desenhar alguém através de uma foto o que lhe dava especial agrado pois assim não dependia do Mr “ I’m the Boss”.
     Até agora, a vida de Anny havia sido um bocado monótona, até algum tempo atrás, em que aconteceu algo que ela não esqueceria tão depressa. Um dia ligaram-lhe a perguntar se ela poderia fazer um quadro com uma certa foto. Claro que ela aceitou e qual foi a sua surpresa quando uma senhora trouxe a foto de um rapaz que havia sido da sua turma há alguns anos. Anny olhou para a foto que mostrava o jovem agora mais velho, mas com a mesma cara risonha que a fascinara por algum tempo.
     - Quero oferecer alguma coisa ao meu filho, então lembrei-me, já que ele gosta tanto de pintura e não muito de fotografia, oferecer-lhe um quadro dele próprio mas sem ser uma fotografia..
     - Pois o David nunca gostou de fotografias.
     - Oh, conheces o meu filho?!
     Quando a senhora soube que eles haviam sido amigos há alguns anos atrás, obrigou Anny a ir tomar café com ela e conversou sem parar, ligando mesmo ao filho para que este viesse imediatamente “(re)conhecer uma pessoa maravilhosa que ela acabara de encontrar”.
     David não tinha a intenção de se encontrar com mais uma maravilha que a sua mãe descobrira mas ao ouvir que era alguém que ele próprio conhecia e já que estava perto do café decidiu entrar e ver quem era.
     Ao ver Anny, a cara de David abriu-se num grande sorriso, abraçou-a e sentou-se na mesa delas.
     - Nunca pensei que a minha mãe pudesse estar a falar de ti. Que tens feito da vida?
     Ficaram na conversa bastante tempo, entretanto a mãe teve de se ausentar e ficaram os dois. David contou que tinha tirado o curso de mecânico e agora trabalhava numa empresa automóvel. Já começara a escurecer e David quis acompanhá-la até casa. Passearam juntos, não apenas nesse dia mas também durante os próximos encontraram-se algumas vezes. E à noitinha Anny ficava ao pé da janela do seu quarto pintando numa tela aquela fotografia. De um momento para outro os seus dias deixaram de ser monótonos e Anny deixou de se sentir sozinha, aguardando ansiosamente o momento do dia em que se encontraria com David ou aquelas horitas que passaria a pintar.
     Certo dia, quando mais uma vez, David a acompanhou a caminho de casa, ambos caminhavam silenciosos e devagar como que prolongando o momento da chegada.
     - Gostei imenso de voltar a ver-te depois destes anos... Sabes, acho que nunca te disse mas quando estudávamos juntos eu sempre gostei um bocado de ti, mas eras tão tímida nunca tive coragem de dizer alguma coisa...
     Anny olhou-o timidamente e baixou o olhar envergonhada e disse baixinho:
     - Tenho pena que não o tenhas dito... 
     David sorriu surpreso e afastou uma madeixa do seu longo cabelo dourado escuro. Anny sorriu e beijou-o tímidamente... Mais tarde não conseguiu lembrar-se se levara muito ou pouco tempo... Já estavam perto da casa de Anny, e enquanto ainda se beijavam o telemóvel de David começou a tocar. Ele foi ver quem era e disse:
     - É a minha namorada, bem ela que espere.- disse enquanto tentava beijá-la de novo.
     Naquela altura a única coisa que Anny conseguiu dizer foi:
     - Vai-te embora.
     Quando chegou a casa viu o quadro já pronto, ao pé da janela com a cara de David sorrindo como que a fazer troça dela, "iluminado" com os raios de sol que entravam pela janela naquela tarde.
     Pegou no quadro atirando-o para o fundo do caixote do lixo e quando a mãe dele ligou a perguntar pela encomenda disse-lhe que não conseguiu fazê-lo.
     Vale a pena conhecer algumas pessoas, outras pensa-se que vale a pena mas no final chega-se à conclusão que mais valia nunca se ter conhecido.
     E se isto é o final da história de Anny e David certamente não será o final da história de Anny, ainda há muita coisa para contar...


(continua...) 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 - Um Lugar Secreto...

     “Nunca desistas de tentar alcançar a lua pois o pior que pode acontecer é ires parar a uma estrela.”
     May escrevia debruçada sobre o seu caderno sentada na relva na descida da colina, de pernas cruzadas, olhando de vez em quando para o céu que escurecia demasiado rápido prometendo chuva para breve.
     Um lugar à parte do mundo, eis o que parecia, aquela encosta com uma pequena casinha de madeira com aspecto velho, ao pé de um enorme eucalipto que se erguia em direcção ao céu como se fosse o dono do Mundo. Parecia um lugar meio solitário, com apenas uma única árvore numa área grande e os campos abandonados onde começavam a florir as primeiras flores. Para May aquele era de certa forma o lugar secreto que lhe permitia esquecer o dia-a-dia, o lugar onde se respirava paz. Talvez no início houvesse a tendência de lhe chamar “um lugar onde o tempo parava”, mas May descobriu desde bem cedo que pelo contrário, era “um lugar onde o tempo decidia ganhar a corrida de velocidade”.
     May olhou para o seu lado onde estava Gonçalo, de olhos fechados, deitado na relva, com ar cansado e feliz. Adivinhando que estava a ser observado, Gonçalo abriu os olhos e perguntou sorrindo:
     - O que estás a escrever?
     - “Nunca desistas de alcançar a lua pois o pior que pode acontecer é ires parar a uma estrela”. Li isto algures e gostei… Não deixa de ser verdade.
     - Hum, e eu sou o quê? A lua ou uma estrela?
     - Tu sabes. - May riu-se e deitou-se também e ficaram ambos a olhar o céu que trazia uma nuvem escura e pesada, em silêncio. Não havia nem uma única brisa que movesse as ervas do campo e estava um silêncio em que quase dava para ouvir o som do bater do coração.
     - Se ficarmos aqui vamos apanhar uma bela molha.
     - Não faz mal, assim ficamos os dois doentes e não vais trabalhar.
     - Ah claro.
     - Vem, a Martinha deve estar prestes a chegar. Estou ansioso para conhecer a minha sobrinha, depois de 5 anos.
     Naquele momento mal sabia ele como a vinda da sua sobrinha afectaria a sua vida…
     - Sim, eu também, mas tenho de ir embora… - disse May, sem se levantar e ambos continuaram deitados, até sentirem os primeiros pingos de chuva que se tornou rapidamente num temporal. Levantaram-se ambos de rompante e correram pela colina até a carrinha.
     Marta chegou nessa noitinha. Ainda chovia torrencialmente e quando Gonçalo abriu a porta depois de ouvir bater, viu uma menina completamente molhada, que chorava compulsivamente agarrada à mãe.
     Gonçalo lembrava-se vagamente da sua cunhada, já não a via há anos e ao vê-la novamente, lembrou-se que nunca a achara simpática.
     - Vá Marta, a mãe tem de ir embora, ficas bem aqui com o tio. – disse enquanto a empurrava impacientemente.
     - Não quero, não quero, não quero. - a menina agarrava-se com toda a força a perna da mãe.
     Depois de algum tempo, a mulher finalmente conseguiu que a miúda a largasse e foi-se embora rapidamente.
     Mais tarde Gonçalo lembrou-se do quão estranho tinha sido o facto da miúda chegar completamente molhada enquanto a mãe estava bem seca.
     Entretanto, Marta tornara-se apática e sem dizer uma única palavra, trocou de roupa depois de Gonçalo insistir várias vezes. Depois sentou-se ao pé da janela e ficou a olhar a rua, com a cara apoiada nas mãos.
     Gonçalo tentou muitas vezes meter conversa com ela mas sem resultado. Depois do jantar que ela mal tocou, Marta foi-se deitar e Gonçalo ficou a imaginar se ela estaria a dormir ou apenas a fingir que dormia. E mais uma vez sentiu-se perdido e pensou como seria bom se May estivesse com ele naquele momento. Não apenas naquele momento mas sempre.

(continua…)