sábado, 23 de julho de 2011

Amigos

     Estás junto de alguém, mas não fazes ideia até quando... Porque de um momento para outro chega a hora de dizer adeus. Vivemos uma vida inteira e conhecemos tantas pessoas durante essa vida e quantas são as que estão presentes sempre? Ninguém. Fazemos amigos na escola, dos quais  ficamos longe quando vamos estudar fora, ou eles... Amigos na vizinhança que um dia vão mudar de casa, amigos enquanto somos jovens que vão casar, ter filhos, longe de nós... Irmãos que vivem na mesma casa que nós e um dia seguem a sua própria vida... Pais, filhos... 
        Amigos que gostamos tanto, mesmo que nunca o tenhamos dito, e que fizeram parte da nossa vida algum dia... 
     Por vezes há aqueles amigos que tivemos e um dia perdemos o contacto com eles e até nunca mais os vemos pessoalmente, outros encontramos de novo, por vontade ou coincidência e a alegria é imensa e mesmo depois de tanto tempo sem contacto pessoal é como se sempre estivéssemos juntos. Outros, sentimos que houve mudança, da parte deles, da nossa parte e talvez haja alegria do reencontro mas já não existe aquela intimidade que houve um dia. 
     Pessoas vêm, pessoas vão, amizades ficam outras também se vão... E é assim a vida.
     Mas no meio daqueles conhecidos todos que temos que talvez chegamos mesmo a chamar de amigos existem sempre aqueles que o são realmente. E esses, longe ou perto, muitos ou poucos anos, esses sempre estarão no nosso coração. E esses sabem, mesmo que nunca o tenham ouvido da nossa boca, que aquela frase "gosto muito de ti" é tão verdadeira.

Ellen

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 (cont.) - A Sobrinha de Gonçalo

      - O almoço está pronto.
     Marta continuou a olhar pela janela fingindo  não ouvir o tio. Chuviscava e o vidro estava embaciado. Marta limpou o vidro com a pequena mão e continuou a olhar para os campos que se estendiam até onde a vista alcançava. 
     Já passara uma semana e a mãe insistira com Gonçalo se ele não podia cuidar da criança mais alguns dias e ele não tivera coragem de dizer que não... 
     Marta tinha 5 anos e meio, era pequenina e magrinha, com expressão fechada, olhos tristes e era muito teimosa. Desde que viera, contra a sua vontade, ter com o tio, não falava mais do que o essencial e passava a maior parte do tempo a brincar sozinha debaixo da árvore no cume da colina.
     Gonçalo decidira passar as suas férias naquela casinha de madeira que pertencia a algum familiar dele, ou pelo menos alguns dias para descansar. Tentou ganhar a confiança de Marta sem grande sucesso. A miúda continuava apática como no primeiro dia.
     - Anda comer.
     - Não quero. Vem aí alguém.
     - Vem? - Gonçalo foi até a janela e ao ver quem era virou-se para a miúda e disse todo feliz enquanto a levantava ao ar:
     - É a May!
     Marta mostrou-se surpresa mas não se queixou por ele a levantar e abraçar, e se Gonçalo tivesse reparado naquele momento na cara da menina teria visto um quase sorriso.
     - Quem é a May?
     - Vou apresentar-ta. Anda. - Gonçalo pegou na mão de Marta e foi com ela até a porta.
     - Tu aqui! - Gonçalo não podia estar mais feliz com aquela surpresa. Não esperava vê-la tão cedo.
     May abaixou-se e disse sorrindo para a menina:
     - E tu deves ser a Marta.
     - Sim. - Marta olhava-a meia desconfiada mas sem se afastar.
     - Vieste na altura certa, fiz agora mesmo o almoço.
     Sentaram-se os três na mesa e quando May viu que Marta mal tocava na comida disse-lhe:
     - Tens medo dos cozidos do Gonçalo? Eu também tinha no inicio... Mas não te preocupes até é bom.
    - Medo? Quase que devoraste a comida quando cozi para ti a primeira vez.
    - Hahaha claro...
    Marta pensou uns segundos e começou a comer e pelos vistos gostou mesmo do que comia, até repetiu o prato.
    Nessa tarde quando Marta brincava lá fora, Gonçalo contou a May como estava a ser difícil lidar com a criança.
   - Estou tão feliz estares cá... Ela gosta de ti.
   - Achas?
   -Tenho a certeza que sim.
   Olharam pela janela e viram uma criança que parecia alegre pela primeira vez a correr pela colina.

(continua...)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Momento

     O sol entra pela janela iluminando um canto do quarto e a estrela de papel colada no vidro brilha como se fosse verdadeira. Um quarto desarrumado, cheio de brinquedos e desenhos nas paredes que pertence a alguma menina... De facto no meio do quarto, ajoelhada em cima de um tapete, uma pequena menina brinca com uma casinha de barbie enquanto cantarola e fala com os brinquedos. É uma menina linda que dá vontade de olhar o dia inteiro. Os cabelos loiros, um pouco abaixo dos ombros embelezam aquela carinha expressiva. Os olhos de cor indefinida, azuis ou cinzentos não sei, a cara salpicada com algumas sardas, boca vermelha e quando ela sorri... O Mundo cai-lhe aos pés. No entanto ela não tem noção de nada disso... é  uma  pequena menina perdida no seu Mundo de fantasia. 

Ellen

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 - Coincidência

     O Mundo é grande e ainda assim pequeno. Porque senão, como é possível que no meio de tantas pessoas que existem são exactamente aquelas duas pessoas que se encontram? Coincidência... Ou procura.
     Sue estava sentada em frente de um monte de documentos sem vontade nenhuma para ler aquilo tudo, já haviam passado algumas horas e ainda faltava mais de metade... Passar os últimos dois dias de férias a estudar não era nada fácil mas tinha de ser...
     Sue olhou para o relógio, eram 22:10, a noite ainda seria longa... Com sorte deitar-se-ia as 1:30. 
     Estava um calor... Sue foi abrir a janela e quase derrubou a orquídea mas ainda conseguiu segurá-la a tempo.   As pétalas estavam murchas, a planta precisava urgentemente de ser regada.
     - Nem tempo para regar uma planta tenho, que miséria. - pensou enquanto regava a flor.
     Eram 22:20 quando o telemóvel tocou. 
     - Sue? Olha é o Sebastião, estou aqui na festa da praia com a malta vens ter connosco?
     - Não posso, tenho de acabar de organizar os documentos, quero ver se acabo tudo até amanhã.
     - Vá lá, vens só um bocadinho, aposto que estiveste fechada em casa o dia todo.
     - Não dá... E sinceramente não estou com muita vontade para festas agora.
     A janela estava aberta mas o calor era o mesmo. Um calor sufocante que só tornava tudo ainda mais cansativo...
     22:30. Sue estava prestes a adormecer a olhar para os papéis quando lhe bateram à porta e Sebastião entrou de rompante. 
     - Que fazes aqui? Pensava que estavas na festa.
     - E estava, e volto já para lá. Contigo.
     E antes que ela pudesse responder, ele agarrou-a puxando-a para  a porta.
     - Andaste a beber? Já disse que não quero!
     No entanto, Sebastião tanto insistiu que ela acabou por entrar no seu carro. 
     Era uma noite clara, com o céu cheio de estrelas e uma lua quase redonda. A casa de Sue não era muito longe da praia e em 10 minutos estavam lá. Havia barracas ao longo de toda a praia, música e imensas pessoas. 
     - Onde está o resto do pessoal?
     - Algures por aí... Queres ir ter com eles?
     - Agora não... Talvez daqui a bocadinho. Tenho sede.
     Foram comprar qualquer coisa para beber, a frente deles estavam dois rapazes, o mais pequeno discutia com um outro:
     - Ganhei a aposta, tens de pagar! 
     - Pensas que ganhaste, daqui a bocadinho vais ver que não... Mas não seja por isso eu pago.
     Sue viu o rapaz que estava à sua frente, de costas, e parecia-lhe familiar... Onde já o tinha visto?
     O jovem pagou e virou-se para ir embora quando também a viu. Hesitou por um segundo e disse sorrindo:
     - Eu conheço-te! Ainda não tivemos oportunidade de nos apresentar, sou o Xavier e este é o meu primo Duarte. - disse, estendendo-lhe a mão sem nunca deixar de sorrir.
     - Sue e Sebastião. - respondeu apertando-lhe a mão.
     Caminharam um bocado juntos pela praia, e no meio da conversa Xavier e Sue ficaram um bocadinho para trás. 
     - Recebeste a orquídea?
     - Recebi.
     - Quando a vi lembrei-me daquela vez em que te ouvi tocar e cantar da tua janela por isso é que quis oferecê-la mas pensando bem se calhar o teu namorado não achou muita piada...
     - Ele não é meu namorado, somos colegas de trabalho e melhores amigos. 
     - Xavier, já são 23:00 temos de ir.
     - Já?! Vamos. Temos um encontro com amigos, já devem estar à nossa espera, temos de ir.
     Despediram-se a caminharam apressadamente para o meio da multidão.
     Sebastião e Sue continuaram a caminha à beira da água.
     - Então valeu a pena sair de casa?
     - Sempre deu para lavar as vistas. - respondeu ela a rir.
     Sebastião deu um pontapé na água molhando-a a qual ela respondeu de volta e pouco tempo depois estavam ambos molhadas e acabaram por se atirar à água. Estava calor mas À medida que o tempo passava começou a ficar frio. E quando saíram da água Sue tremia com os lábios roxos.
     Voltaram para o carro e Sebastião buscou uma mantinha ao porta bagagem no qual ela se embrulhou.
     Quando chegou a casa ignorou o monte de documentos que a esperavam, amanhã acabaria o resto.

(continua...)

      
     

terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 (cont.) - Uma Visita à Casa dos Avós

     Estamos habituados a uma rotina, algo natural do dia-a-dia, até que um dia deixa de ser... E de um momento para outro começamos uma nova rotina, uma nova vida.
     A noite caía lentamente, os últimos raios de sol batiam contra o vidro do mini cooper verde, quase cegando Maggie que conduzia naquele final de tarde em direcção à casa dos avós.
     Já passara bastante tempo desde a última vez que ela os tinha visitado o que tornava a saudade ainda maior...
     Maggie pôs os óculos de sol e começou a cantar ao som de Daughtry cada vez mais feliz à medida que se aproximava de casa.
     Já não vivia em casa deles há quase dois anos, mas aquele seria para sempre o seu lar.
     Quando finalmente chegou a casa, cansada da longa viagem, já era noite escura. Maggie abriu a porta de mansinho e viu o avô deitado no sofá a dormir, a avó atarefada com um enorme bolo de chocolate e o cão  deitado no canto da sala. A alegria do reencontro foi enorme.
     - Até quando ficas aqui?
     - Até terça, depois tenho de voltar para as aulas...
     Maggie já não vivia em casa dos avós há algum tempo pois surgira uma oportunidade dela estudar música mas demasiado longe de casa para ela ir e vir todos os dias, então decidira alugar uma casa mais perto do local.
     - Conta-nos todas as novidades. Como é viver sozinha?
     Gastão (o cão), parecia louco e corria e saltava à volta de Maggie todo feliz enquanto ela atacava o bolo.
     - Quero voltar para casa.
     O avô olhava para a neta todo babado enquanto a avó fazia mil e umas perguntas.
     Aqueles três dias passaram a correr, para Maggie foi quase como se ela nunca tivesse saído de casa, no entanto ela não deixou de reparar que o tempo também havia passado naquela casa. A energia já não era a mesma, e eles já tinham dificuldades em meter Gastão na linha.
     - Venham viver comigo, tenho saudades vossas.
   - Enquanto pudermos vamos ficar por aqui... Já são muitos anos passados aqui para nos mudarmos agora...
     - Assim que acabar o curso volto para cá.
     - Quando são as tuas próximas férias?
     - Ainda não sei... mas não tão depressa... Vou levar o Gastão comigo. - disse Maggie a brincar enquanto abraçava o cão.
     - Leva-o. - respondeu a avó depois de pensar um bocadinho.
     - A sério? Mas...
    - Sim, vai ficar grande parte do dia sozinho, mas é melhor para ele e para ti também. Assim nunca estarás sozinha quando voltares para casa. E assim pensas sempre de nós.
     - Não preciso do Gastão para pensar em vocês. Mas não me importava nada de levá-lo comigo...
     -Leva-o e logo vês se dá para ele ficar contigo ou não, se não der ele volta para cá.
     Terça-feira, quando o sol se punha mais uma vez Maggie conduzia de volta, não para a sua casa, pois sua casa seria sempre aquela que ela deixava para trás. E não ia sozinha pois ao lado dela ia Gastão, aquele cão que conhecia grande parte dos segredos da vida de Maggie e dos avós após vários anos de convivência com eles, mas é pouco provável que descubramos algo por meio dele...
     O céu escurecia, não devido à chegada da noite mas devido à chegada da tempestade. Seria uma viagem longa e nada fácil. Se Maggie soubesse o que a esperava ainda, teria faltado as aulas do dia seguinte, o que de qualquer maneira acabaria por acontecer, e teria ficado mais uma noite em casa dos avós. Aquela seria sem dúvida uma noite muito marcante...

(continua...)

 
Com a colaboração da Andreia :)