sábado, 23 de junho de 2012

Escuta

Escuta.
Consegues ouvir? Aquela voz irritante que persiste em dizer: não há história, não há segredo.
Não escutes essa voz... Escuta.
Ouves o som da Natureza? Consegues ver aquela beleza? 
Tudo confuso. Vejo no teu olhar que não entendes nada e não me apercebo que não te vejo a ti mas sim o reflexo do meu próprio olhar confuso.
Deixa-me contar-te uma história. Escutas?
Não sei como começar pois estas palavras não são a minha história. Tu és a minha história.
O primeiro capítulo da nossa história e nem sei se sequer fazes ideia da existência dela.
Será uma história com final feliz? Com final triste? Sem final algum? Será que essa história passará do primeiro capítulo? Não sei... Deixo-me surpreender por ela, qual é a piada de ler um livro cujo fim já nos é conhecido? 
Queres saber um segredo? Tu és o meu segredo.
Escuta, deixa-me que te conte, vais-te lembrar?
Esse livro que conta a nossa história, queres lê-lo comigo? Vamos subir aquele monte onde se vê o pôr do sol, senta-te ao meu lado e não precisarias de ler pois a história estaria a acontecer.
Escuta aquela voz que te conta o meu segredo. A voz que te conta aquela história.
Quanto a mim, ouço aquela voz irritante que persiste em dizer que não há segredo. Que não há história.
Não escuto.


Ellen

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Já passou tanto tempo e tão depressa que nem dei por ele a passar.
Sempre soube que um dia voltaria aqui. Que voltaria a deixar em palavras aqueles sentimentos que penso sentir ou os pensamentos que desejo inventar. Serão reais? Não sei dizer...
Lá fora escurece e não tenho noção das horas... Entardece. Ouço o ribombar dos trovões e de vez em quando os raios de luz parecem atravessar este pequeno quarto iluminado apenas por uma vela.
Nunca ouvi tal trovoada, parece que a qualquer momento as paredes vão abaixo. Se tenho medo? Não. Não receio a trovoada mas desejava não estar aqui sozinha. Ocorres-me nos pensamentos, aquele teu sorriso que faz toda a escuridão desaparecer. Quanto tempo passou desde a última vez que vi esse sorriso? Semanas? Meses? Não, nem dias nem horas nem minutos pois vejo esse sorriso teu que está presente na minha mente. Se pudesses estar aqui comigo, aconchegar-me-ia nos teus braços, fecharia os olhos e ouviríamos a trovoada  juntos até adormecer. 
Mas não fecho os olhos nem adormeço pois estou sozinha neste quarto, guardando o meu segredo, vejo a luz da vela tão pequenina que mal ilumina o quarto entretanto escuro, como uma esperança que treme à beira de se apagar. Mas essa luz não se apaga sozinha, apenas se eu deixar... E alimento a esperança com a tua presença e penso se alguma vez estou presente na tua mente também assim?
Apago a vela.

Ellen