terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quem és tu, que entraste assim na minha vida, sem pedir autorização? Tu que vens  e vais sem explicações, que prometes o que eu não quero e não cumpres o que espero? Quem és tu, que pensas que sou uma porta cuja chave te pertence? Porque me marcaste com tanta força que não aguento ficar ao teu lado e no entanto não gosto de ficar longe de ti? Por vezes dou por mim a pensar, se no final de contas sou tão importante para ti como tu para mim... E penso que se te perguntasse provavelmente dirias que eu ainda o era mais... Mesmo assim, não consegues cumprir as minhas expectativas, aquelas que tenho, mesmo sem querer, da mesma forma que nunca conseguirei cumprir o que desejarias de mim. E é assim... chega-me à mente aquela tão famosa frase: "não consigo viver sem ti mas também não consigo viver contigo". E no entanto, os rumos das nossas vidas talvez levem a isso. Ao "viver sem ti". Sei que esse será provavelmente o nosso futuro. Um futuro sem um "nós". Não teria de ser assim, talvez não tivesse mas entre o "contigo" ou o "sem ti", no fim escolheria o "sem ti". Mas não consigo deixar-te de parte em minha vida. Talvez por teres feito tanto parte dela, mesmo não estando presente agora, existe aquela parte só tua... E ambos chegamos ao momento em que as expectativas deixam de existir, não me és indiferente da mesma forma que quero acreditar que não o sou para ti, mas chegou o momento em que acabou. Acabou a expectativa de promessas não cumpridas ou desejos não realizados, talvez já nos conhecemos tanto que sabemos que já não existe nada à espera um do outro. Porque as coisas são como são, tomaram o rumo que tomaram e talvez no final de contas tenha sido pelo melhor. E não me arrependo que tenha sido assim.

Ellen

domingo, 27 de novembro de 2011

     Custa tanto dizer adeus a uma pessoa que amamos e no entanto... por vezes é o melhor que podemos fazer. 
     E eis que a história fica resolvida. Pela maneira mais dura, pela maneira mais fácil... Vais-te embora e eu fico. Sem nenhuma promessa de espera, sem nenhuma promessa que poderia ser quebrada. Quem diria que as coisas se resolveriam tão facilmente... Vou sentir saudades tuas. Sei que sim, mas quero acreditar que um dia deixarei de senti-las. E desejo ardentemente a chegada desse dia.
     Até lá.

     Ellen

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 4 (cont.) - Algo inesperado

     Não sou de escrever textos ou histórias e muito menos diários, nunca fui desse género e penso que nunca serei. Portanto não sei explicar, porque raio me deu para descrever o dia de hoje. Talvez seja pelo facto de ter sido um dia diferente ou um dia que, penso eu, de alguma forma mudará a minha vida ou pelo menos parte dela.
     Não gosto de trovoada, não digo que tenha medo, pelo menos não entro em pânico o que já é bom, simplesmente não gosto. Hoje fez trovoada e de que maneira, parecia que o tecto da escola nos ia cair em cima.
       À tarde, durante a última aula de instrumento, tivemos uma visita. Estava a acompanhar a minha professora de piano com o violino numa música super complicada e foi tão giro porque estávamos tão concentradas a tocar que a chuva e a trovoada pareciam que estavam lá no longe... Estávamos tão empenhadas que nem nos demos conta que dois senhores tinham entrado na sala e estavam a ouvir-nos. Quando acabamos eles foram falar com a professora e por fim veio a grande novidade de que haveria um grande concurso, de vários países do redor, e que eles estavam à procura de talentos nas várias escolas de música para participarem. E querem que eu também participe!
     A professora diz que é uma oportunidade única e que aquilo vai ser de grande valor para a minha aprendizagem. Estou curiosa no que vai dar... E ansiosa também. O concurso vai ser na Alemanha e mesmo que não ganhe mais nada, pelo menos vou ter a viagem para um país que nunca fui.  Daqui a cerca de 4 semanas vou para lá. E agora que voltei para casa e a chuva continua e a trovoada também, meu remédio é continuar a tocar também.  E quanto à escrita, duvido que volte a escrever... Vou buscar o violino.

     Maggie

     

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

    
      Dou por mim muitas vezes a pensar que posso ser muito feliz por não ser igual a muitas pessoas que me rodeiam. Não por acreditar que seja algo melhor  que elas, de forma alguma, mas posso sentir-me feliz por não viver a vida que elas vivem e já viveram. Comparando a minha vida com a delas penso que até é injusto os sofrimento pelo qual essas pessoas passaram e ainda passam e a minha bela vida. É claro que a minha vida também não é perfeita e já passei por algumas coisas também mas isso se torna em nada quando olho para aquelas pessoas marcadas pela vida, algumas com cicatrizes tão profundas e visíveis que ficam para sempre. Não consigo imaginar como seria se tivesse de passar pelo que eles passaram. 
     À primeira vista e talvez mesmo à segunda ou terceira não te dás conta que são pessoas com problemas tão grandes que ficam afectadas psicologicamente para sempre. À primeira vista parecem pessoas normais com sentimentos e problemas normais e muitas vezes podes passar anos a conviver com essas pessoas sem realmente te dares conta que algo não está certo.  Mas se prestarmos atenção a pequenos pormenores ou apenas escutarmos as coisas que nos contam, observarmos aquelas mudanças radicais de humor sem razão aparente, a apatia ou a hiper-actividade, a sensibilidade, a agressividade... Tudo são marcas do passado que tiveram. Porque sim, não são pessoas doidas ou anormais ou problemáticas, são pessoas marcadas. E penso em quanto cuidado é preciso para lidar bem com essas pessoas e tudo o que tento é ajudá-las de alguma forma sem dar a impressão errada de ser alguma psicóloga ou algo do género para elas. Quero ser amiga e no entanto é preciso saber os limites que esse tipo de amizade pode ter. 
     Gosto imenso de conhecer pessoas, conhecer as personalidades de cada um, o porquê de alguém ser como é e fazer as coisas que faz. Acho a mente humana tão fascinante e no entanto sei que não seria de modo algum adequada para esse tipo de profissão, psicóloga ou acompanhante de jovens problemáticos etc... Porque nem sempre faço as coisas como seria correcto fazê-las. Não trato as pessoas como deveria e tanta vez que penso à noite do que fiz mal neste dia, porque respondi mal quando algum deles disse algo estúpido ou fez algo mal. Não tenho o controle suficiente sobre mim mesma para deixar as minhas emoções de lado e deixar apenas a razão falar. 
     E é assim que passo cada dia, tentando ou pelo menos pensando que irei tentar dar o meu melhor, para ser amiga e ajudá-los, penso neles com carinho, pois ao contrário do que sempre imaginei, sendo pessoas diferentes, levando como se costuma dizer uma "má vida", quando os conhecemos e vivemos e lidamos com eles damo-nos conta que afinal são iguais a qualquer um, apenas tiveram o azar de ter uma vida triste e complicada. E por isso penso: sou feliz, posso estar mil vezes agradecida de não ser como eles. De não ter de viver a vida deles. E é apenas por isso.

Ellen

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Como podes ter saudades de algo que nunca foi teu?
Porque sonhas e continuas a sonhar com o impossível?
Quando vais finalmente abrir os olhos para a realidade e dar-te conta que a realidade é a única coisa que pode ser tua?
Acorda.


Ellen

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

     Nem tudo o que escrevo na primeira pessoa se trata de mim, dos meus pensamentos ou dos meus sentimentos... Mas por vezes apetece-me escrever assim, coisas que podem não ser do "eu". Então aqui vai:


      Prometi a mim mesma não voltar a escrever cartas para um "tu" que não existe ou talvez o "tu" exista e as cartas é que não deviam existir... Porque te diria qual é o caso?
     A questão é, quando não se pode dizer o que se sente, o que resta senão escrever?
    Por isso escrevo-te e penso que por algumas vezes ainda, até quando não sei, mas sei que não preciso de me preocupar de que um dia venhas a saber da existência destas cartas, porque são cartas sem destino.
   Tinha muita coisa que gostava de te dizer, mas não estás aqui para que o possa fazer e mesmo se estivesses provavelmente não diria nem metade do que gostaria. Não vou escrever essas coisas desinteressantes que gostava que soubesses, por hoje apenas te escrevo/peço uma coisa: Por favor, não me faças ficar apaixonada por ti.

     Ass: Alguém


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Better Together

Achei a letra desta música tão linda que tive de partilhar:

"There's no combination of words I could put on the back of a postcard
No song that I could sing but I can try for your heart
Our dreams and they are made out of real things
Like a shoebox of photographs with sepia-toned loving
Love is the answer at least for most of the questions in my heart
Why are we here? And where do we go? And how come it's so hard?
It's not always easy and sometimes life can be deceiving
I'll tell you one thing, it's always better when we're together
Hum it's always better when we're together
Yeah we'll look at the stars when we're together
Well it's always better when we're together
Yeah it's always better when we're together
And all of these moments just might find their way into my dreams tonight
But I know that they'll be gone when the morning light sings
Or brings new things for tomorrow night you see
That they'll be gone too, too many things I have to do
But if all of these dreams might find their way into my day to day scene
I'd be under the impression I was somewhere in between
With only two, just me and you, not so many things we got to do
Or places we got to be we'll sit beneath the mango tree now
Yeah it's always better when we're together
Hum we're somewhere in between together
Well it's always better when we're together
Yeah it's always better when we're together
I believe in memories they look so, so pretty when I sleep
And now when, when I wake up you look so pretty sleeping next to me
But there is not enough time
And there is no song I could sing
And there is no combination of words I could say
But I will still tell you one thing
We're better together"
Jack Johnson

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

     A noite cai fora da janela do meu quarto e eu fico à espera, apesar de saber ser uma espera vã. Penso nos tempos que já lá vão, os anos que passaram as coisas que construímos, que partimos e voltamos a construir... 
     Um dia decidi que não escreveria mais nada deste género e principalmente que nunca te mostraria nada do género mas acho que não preciso de me preocupar disto chegar as tuas "mãos"... Não tens tempo para tal...
     E é tão verdade, pensamos que não, tentamos acreditar que não, que as coisas não mudam mas no final elas acabam por mudar. Dizem que não existe distância para a amizade, eu sempre acreditei que não, duas pessoas podem estar no outro lado do mundo e ainda assim serem amigos. Podes acreditar nisso e podes tornar isso real. Não é a distância que importa, o que realmente importa é como vives com essa distância. Como deixas que essa distância afecte a vossa relação. O problema não é a distância... o problema ou és tu ou sou eu. Ou ambos.
     O tempo passa e sinto-te afastar, assim do nada, de um dia para outro vais cada vez para mais longe. E eu fico à espera de braço estendido, à espera que olhes para trás e vejas que eu ainda cá estou à tua espera. Andas tão envolto no teu mundo, aquele mundo no qual me fizeste acreditar que eu  fazia parte, que não vês as coisas que estás perdendo. Essas preocupações, medos, tristeza que não te posso tirar e que te fazem perder a visão de tudo o resto. Fico aqui sentada, sabendo neste momento que apenas sinto saudades. Tantas. Tentei correr atrás de ti mas não deixas que te alcance, então não corro mais. Fico apenas à espera que te vires e me vejas e te recordes do dia em que disseste que ficavas tão feliz se no futuro, "quando aquele velhote chegar" eu fizesse parte da tua vida. Se assim será ou não, depende de ti. Não posso correr mais atrás do vento sabendo que não o consigo alcançar. Mas ficarei à espera, não posso prometer que vou esperar para sempre mas mesmo assim, provavelmente quando olhares para trás ainda cá estarei. 

Ellen

terça-feira, 11 de outubro de 2011

     Não tenhas medo... porque estas cartas que te escrevo não são para ti. Jamais terás de ler estas palavras insensatas... Não tens de te preocupar. Continua aliviado.


Ellen

domingo, 2 de outubro de 2011

" When I've been lost you've always been there to bring me back, so on this day, at this moment, I pledge the rest of my life to you. You've always believed in me, and I believe in you. When you believe in someone it's not for a minute, or just for now, it's forever."


Smallville

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Se... pudesses mudar um dia da tua vida

     Existem tantas coisas, acontecem tantas coisas por causa de um pequeno acaso que se não fosse aquilo naquele momento, toda a vida de alguém seria completamente diferente. Se pudéssemos mudar uma dia, ou uma única tarde ou uma hora ou mesmo apenas um minuto da nossa vida tanta coisa que seria ou não seria... O acaso, o estar no momento errado no local errado ou fazer a coisa errada ou mesmo dizer a coisa errada pode mudar uma vida ou mais do que uma.
     E por vezes, por uma coisa aparentemente tão pequena, algo que fizemos sem pensar, sem querer podemos ter posto em risco a felicidade de outras pessoas e o pior de tudo é quando, querendo ou não, somos culpados e por nossa causa uma pessoa que amamos ou mais que uma, podem ser infelizes o resto da vida. E não há nada que possamos fazer para impedir ou mudar, porque aquilo que erramos naquele dia, naquela hora, o que causou, não é reversível. E no final de contas, não podemos mudar um dia que já passou... E no fim és a pessoa que destruiu a vida de alguém que amas. Como podes viver com isso? Como poderei viver com isso?

     Ellen

sábado, 10 de setembro de 2011

O não saber

     Este não saber... Este não saber constante até um dia eu deixar de não saber e passar a saber... Podes ter quase certeza de algo e no entanto não sabes ao certo e pensas e sonhas... E queres tanto saber, todos os dias pensas se sim ou se não e sabes que é assim agora mas um dia terás certeza e tens medo desse dia, tens medo de que o que pensas saber, medo de que a tua quase certeza se torne mesmo certeza... Não sei, tenho quase certeza mas não sei e espero pelo dia em que descobrir...  Não sei se quero que esse dia chegue depressa ou não, não sei porque me ponho a pensar, não sei porque me ponho a escrever sobre isto... Simplesmente não sei.

Ellen

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 4 (cont.) - E as estrelas brilham lá no longe...

     Porque as vezes o estar longe também pode ser bom, mesmo que a vontade seja estar perto.
     Era uma noite de Verão calma, não fazia nem frio nem calor, estava um tempo muito agradável.
     May estava sozinha, deitada de costas na relva, como tantas vezes fazia, a olhar o céu. O céu estava coberto de estrelas que brilhavam felizes na noite clara, tantas, tantas que até pareciam estar pertinho. 
     Deitada no chão no meio da noite, os pensamentos de May voavam para longe. Já passara algum tempo desde a última vez que ela estivera com Gonçalo, demasiado tempo a seu ver, mas era assim a vida deles. Um longe constante um do outro que resultava numa saudade constante também. 
     May pensou sobre a última vez que estiveram juntos, e lembrou-se também de Martinha, aquela menina incomum que vivia durante algum tempo com Gonçalo.
     Depois pensou quando é que poderia voltar novamente para perto deles mas desistiu desse pensamento pois chegou à conclusão que não fazia a mínima ideia quando seria. Podia levar muito tempo ainda...
     E se as coisas fossem diferentes? Tantas pessoas que têm a pessoa que amam a seu lado e não dão valor e outros que tanto gostariam de estar perto não podem... May pensou como seria se pudessem estar juntos sempre que quisessem, mas não havia pressas, May não tinha problemas em esperar. 
     Ao olhar o céu estrelado, May lembrou-se de um dia quando os dois estavam sentados no tecto de sua casa a olhar o céu também e Gonçalo dissera:
     - Vês como as estrelas são lindas lá no longe? E são tão lindas exactamente por estarem longe. Se estivessem ao nosso lado não poderíamos apreciar a sua beleza... O longe não tem de ser algo mau. E não vamos esquecê-las por estarem longe. Há noites em que não as vemos ou apenas vemos algumas delas mas elas sempre estão aí em cima a lembrar-nos que existem, a mostrar-nos a sua beleza. São como nós, estamos longe um do outro, talvez haja dias em que nem ouvimos nada um do outro mas temos sempre certeza que estamos aí. E vamos ficar aí.
     Quem sabe se naquele momento, algures lá no longe Gonçalo não fazia o mesmo, olhava as estrelas que eram exactamente as mesmas e sabia que May estava aqui, à sua espera. Ou talvez o céu estivesse escuro e as estrelas tapadas por nuvens, mas fosse como fosse elas lá estavam. Longe mas brilhavam na mesma.
     
(continua...)

     

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 4 (cont.) - "A menina do guarda-chuva"

     Temos o nosso grupo de amigos, o grupo de pessoas conhecidas, o nosso "mundo". Até que aparece mais alguém e quer queiramos quer não esse alguém passa a fazer parte do nosso "mundo" também.
     Era tarde, quase noite e se durante o dia o tempo melhorou a tempestade prometia voltar nessa noite. Não era o tempo de alguém andar sozinho na rua principalmente não uma menina como a que andava pelo passeio com passos firmes e rápidos, provavelmente para a sua casa. Só que não era para a sua casa.    
     Já chovia, não torrencialmente, mas o suficiente para se molharem. Mas aquela menina, quem via pensava que era uma menina, mas também podia ser uma senhora baixinha, não era possível ver a sua cara pois ela segurava um enorme guarda-chuva vermelho que não permitia as pessoas verem a sua cabeça. Com uma mochila grande nas costas e uma malinha numa mão e um guarda-chuva no outro, a menina caminhava  apressadamente sempre pela estrada principal. 
     Parecia muito certa do caminho que tinha de seguir, mas quando passou por um cruzamento ficou um bocadinho a olhar se devia ir para a direita ou a esquerda. Havia um clube na próxima casa da esquerda as músicas ouviam-se na rua. À porta do clube  um jovem olhava a chuva.
     A menina passou, depois parou e voltou para trás. 
     - Desculpe, pode me dizer onde onde fica isto? - perguntou, mostrando-lhe uma morada que tinha escrito num papel.
     - É na próxima rua, a segunda casa da direita. Queres que te acompanhe até lá? Meu primo está lá dentro a cantar, coisa que não faço, e tenho de ficar aqui à espera, ainda vai demorar.
     - Obrigada, não é preciso, vim sozinha até aqui também chego lá.
     - Gosto do teu guarda-chuva. - o rapaz estava com vontade de meter conversa.
     - Foi minha irmã que mo ofereceu há muitos anos.
     A menina agradeceu novamente pela ajuda, o jovem loiro de olhos azul bebé sorriu e ela continuou o seu caminho.
     Começou a chover torrencialmente e já estava escuro. A menina bateu à porta.
     Anny que estava a ver Pretty Little Liars deitada no sofá levantou-se a pensar quem seria a segunda visita, depois de Maggie, naquele dia. Ao abrir a porta arregalou os olhos mostrando a sua surpresa: 
     - Larita!
     - Maninha!
     A menina pôs o guarda-chuva no chão, e já dava para ver a sua carinha sorridente, era uma menina com cerca de 15 ou16 anos de cabelo encaracolado escuro. Pôs o guarda-chuva juntamente com a mala e a mochila, deixando uma poça atrás de si e abraçou Anny.

     (continua...)
   

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 4 - As coincidências continuam...

    Se não tiveres mais nada a que te agarrar, resta a música. Nos momentos de alegria, de tristeza, de solidão, de desespero... Música é sempre um bom remédio. Pelo menos para algumas pessoas como Sue.
     Às vezes nem é preciso estar-se alegre ou triste ou seja lá o que for, mesmo assim recorre-se à música.
     Era um tarde quente, mas até que se estava bem à sombra da árvore. Sue, Sebastião e mais duas colegas de trabalho aproveitavam o resto do intervalo de almoço sentados a descansar à sombra no pequeno parque que ficava ao lado do hospital. Com tanto stress durante o dia todo, aquele bocadinho de descanso sabia mesmo bem. 
     Não estava ninguém por perto além deles os quatro e Sue tocava na sua guitarra. Quando eram músicas que todos conheciam, começavam a cantar e era uma alegria.
     - Vamos combinar alguma coisa para este fim de semana já que estamos todos livres...
     - Acho bem, conheço um clube muito giro com uma decoração diferente onde costumam cantar karaoke todos os segundos fins de semana, e quem quiser levar instrumentos pode. Cantam por equipas, e com a Sue na nossa os outros não têm hipótese.
     - Sim, sim... Eu posso ir com vocês mas nem pensem que me vão ouvir cantar. Até parece que não me conhecem já...
     - Então, também tocas e cantas aqui para nós, não existe razão para ser diferente lá. A nossa rica hora de almoço já chegou ao fim, vamos lá, não convém chegarmos atrasados.
     E lá foram os quatro.
     Os longos e cansativos dias passaram e finalmente chegou o fim de semana. Sábado à tardinha os quatro  amigos foram ao clube que já estava bastante cheio e Sebastião inscreveu-os para cantarem.
     - Não vale a pena meteres o meu nome aí, já sabes que não vou cantar. - disse Sue que estava atrás dele.
     -Vá lá, só desta vez. Ninguém te conhece aqui. E vamos divertir-nos todos.
     - Fico sentada a ver.
     - Fogo, que teimosa... Já sei que não vais mudar de ideias, mas só para o caso de mudares meto o teu nome na mesma.
     - Mais vale poupares a tinta da caneta.
     Sue foi sentar-se numa mesa perto do bar e do palco enquanto os outros três foram lá para a frente para junto dos outros concorrentes.
     Ainda não havia começado, quando alguém veio por trás dela e disse-lhe:
     - Não vais cantar também? 
     Sue virou-se, aquela voz não lhe era estranha e de facto era Xavier que lhe falava.
     - Olá. Não vou não, só venho apoiar os meus amigos.
     Xavier sentou-se na cadeira livre ao lado dela.
     - Devias, dás cabo daquilo tudo.
     - Não dou não. E não gosto de cantar em público... Tu não participas?
     - Vou cantar sim, mas não tenho companhia, será eu sozinho contra outra equipa, a não ser que queiras cantar comigo.
     - Ahah, não obrigada.
     - Então ficas a beber aqui, vou lá para a frente, já sei que não é a mim que vais apoiar, mas vou fingir que sim. Deixa-me pagar-te alguma coisa, o que gostas?
     - Não é preciso, vai lá cantar, já vão começar.
     - Uma caipirinha para esta menina se faz favor. - Xavier fez o pedido, pagou e foi para junto dos outros concorrentes.
    Não eram assim tantos participantes, mas ainda havia alguns. Quer a equipa de Sebastião quer Xavier estiveram bem e passaram algumas eliminatórias até que calhou os dois cantarem juntos. Tinham de cantar 3 canções e quem tivesse a maior pontuação em duas delas passava a fase seguinte. Primeiro cantaram a Chasing Cars dos Snow Patrol em que a equipa de Sebastião venceu por muito pouco, depois a For the First Time dos The Script em que Xavier venceu também por muito pouco.
     Ambos olhavam atentamente para Sue enquanto cantavam como se estivessem cantando apenas para ela no meio da multidão e Sue mostrava que apoiava a sua equipa o que parecia deixar Xavier um pouco desiludido apesar de ele já estar à espera.
     Por fim chegou a última música e quando começou a tocar Sue riu-se e viu que Xavier também estava com um enorme sorriso. Era a Secrets dos One Republic. A música que Sue cantara na varanda quando "conheceu" Xavier.
     A diferença não foi muito grande, mas ainda assim Xavier ganhou passando a fase seguinte.
     Sebastião e as colegas foram ter com Sue e Sebastião disse meio a gozar meio a sério:
     - Aquele homem anda a perseguir-te. Vai para todos os lugares que vais tens de ter cuidado.
     - Claro, ele ia adivinhar que eu viria cá hoje...
     - Foi por tão pouco... Faltavas tu na nossa equipa.
     - Tiveram muito bem.
     Xavier conseguiu passar mais uma fase mas perdeu a seguir e quis vir para a mesa de Sue mas começaram a chegar mais gente e já não deu.
     Estava a tornar-se sufocante e Sue e os amigos decidiram ir embora. De qualquer maneira já era tarde.

(continua...)



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 (cont.) - Anny e Maggie

     - Vai tomar banho, há toalhas no armário e se quiseres eu posso emprestar-te roupa minha. - disse Anny enquanto lhe mostrava onde era a casa de banho.
     - Obrigada, mas devias pensar melhor em levar pessoas estranhas a tua casa... Sabes lá que tipo de pessoa eu sou...
     - Não tenho medo. Vou fazer qualquer coisa para comermos fica à vontade.
     Meia hora depois Maggie e Anny estavam sentadas na sala a comer torradas com nutella enquanto Gastão, deitado aos pés de Maggie, pedia com uns olhos suplicantes um bocadinho de pão.
     - Não podes comer chocolate faz-te mal. - Maggie acariciou o pêlo molhado de Gastão que baixou a cabeça com cara triste.
     - Então que te aconteceu afinal para andares perdida na floresta no meio de uma tempestade?
     - Não tens de ir a algum lado? Encontrei-te pelo caminho e voltaste para a tua casa comigo...
    - Eu ia a caminho do trabalho mas a minha colega não me veio buscar portanto chegaria atrasada de qualquer maneira, não te preocupes. Hei de ir hoje a tarde. Ainda estás a sangrar da perna. - Anny foi buscar a caixa de primeiros socorros e tratou da perna dela.
     - Bem, queres saber a minha maravilhosa aventura? - Maggie encostou-se para trás no sofá, cansada, e começou a contar a sua história.
     - Estás cansada, se quiseres vai dormir um pouco e depois contas.
   - Eu aguento, aguentei até agora... Ontem fui visitar os meus avós e voltei à noite, vivo longe deles e quando estava a meio do caminho faltou a gasolina e fiquei parada, ainda consegui pôr o carro na berma e comecei a andar a procura do próximo posto de gasolina. Fui pelos caminhos desertos no meio dos serrados  porque assim poupava uma hora de viagem, o que foi um erro porque não apanhava rede lá e também não passavam carros nenhuns. Pensei ficar de noite no carro e esperar pela manhã, mas pensei lembrar-me que se fosse pelo próximo cruzamento chegaria à estrada principal e havia um posto bem perto. Enchi-me de coragem e fui apesar da chuva que estava a ficar cada vez mais forte. é claro que me perdi, sou péssima em orientação, e quando dei por mim estava no meio da floresta e no meio da tempestade. Gritei, caí, pensei que iria ficar lá para sempre, até que amanheceu e encontrei-te a ti. E foi sem dúvida das piores noites da minha vida.
      - Coitada de ti... Tinhas voltado para o carro pelo menos ficavas abrigada... O cão não te ajudou a encontrar o caminho?
     - O Gastão? Coitadinho estava com mais medo do que eu, já é muito velhinho já não consegue cheirar muito bem... Olha obrigada por tudo, vou buscar gasolina e apanho um taxi até ao meu carro. És muito simpatica, vou recompensar-te pela ajuda.
     - Ah não é preciso, gostei muito de te conhecer, preferia que fosse noutra situação mas...
     - Havemos de combinar um dia para almoçarmos...
     - Ok, gostava muito.

(continua...)
     
     

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 (cont.) - Um Encontro na Floresta

     Esperar. Até quando? Anny encostou-se à parede de pedra que ficava ao lado da porta de entrada da casa mas endireitou-se logo pois a parede estava fria e húmida.
     Para variar, chegaria mais uma vez atrasada ao trabalho e iria ouvir um sermão do chefe mas por mais zangado que ele ficasse nunca a mandaria embora pois sabia que não encontraria igual tão depressa.
     Estava bastante frio depois da tempestade da noite e pelos vistos Anny não teria boleia nesse dia. Por vezes a colega de trabalho não aparecia sem avisar e Anny ficava pendurada à espera, como hoje.
     Com demasiado frio para estar quieta, Anny caminhou em direcção ao trabalho, caso a colega aparecesse apanhava-a. Que tempo estranho, não era suposto estar tanto frio nessa época e a chuva também prometia voltar de novo. Anny apertou o casaco à sua volta e começou a apressar o passo.
     Era triste, levantar-se tão cedo para não chegar a horas...
     - A minha vida precisa de uma mudança, estou farta disto tudo. - murmurou para si mas calou-se envergonhada quando um velhinho que passava na rua parou para escutar o que ela dizia.
     - Bom dia menina.
    - Bom dia. - Anny ainda apressou mais o passo até chegar aquele caminho de terra que passava pela floresta.
     Cheirava a terra molhada e a gasolina quando um carro passou por ela e Anny pensou que se calhar até não seria um dia tão mau assim.
     Ainda era um bocado longe até ao local de trabalho, pelo menos uma hora pelo mato. Um passeio sem incidentes, pelo menos era o que Anny pensava e esperava, mas nunca se sabe o que vai acontecer em qualquer momento, em qualquer lugar...
     Anny cantarolava enquanto ouvia "Dust in the Wind" no mp3 e por isso não ouviu logo quando alguém a chamou.
     De um cruzamento, vinha uma jovem senhora completamente molhada com um cão nos braços.
    Quando finalmente a ouviu, Anny aproximou-se daquela jovem que tremia de frio, com a roupa e o cabelo  sujo de terra, olheiras profundas e as calças sujas de sangue numa perna.
     - Sabes dizer-me onde estou? Tou a caminho a noite inteira e completamente perdida com o meu óptimo sentido de orientação...
     - Vem, eu ajudo-te. Ainda temos de andar um pouco para sair daqui...
     - Não posso mais... Deixa-me descansar um bocadinho... Que noite...
     - Ok, mas é melhor nos despacharmos, precisas de mudar de roupa e tomar um banho quente, ainda ficas doente assim. Como te chamas?
     A jovem sentou-se no chão, afastando uma madeixa loira da cara e respondeu:
     - Podes crer, nunca precisei tanto na minha vida. Maggie.
     -Então que se passou para estares assim?
(continua...)

     

sábado, 23 de julho de 2011

Amigos

     Estás junto de alguém, mas não fazes ideia até quando... Porque de um momento para outro chega a hora de dizer adeus. Vivemos uma vida inteira e conhecemos tantas pessoas durante essa vida e quantas são as que estão presentes sempre? Ninguém. Fazemos amigos na escola, dos quais  ficamos longe quando vamos estudar fora, ou eles... Amigos na vizinhança que um dia vão mudar de casa, amigos enquanto somos jovens que vão casar, ter filhos, longe de nós... Irmãos que vivem na mesma casa que nós e um dia seguem a sua própria vida... Pais, filhos... 
        Amigos que gostamos tanto, mesmo que nunca o tenhamos dito, e que fizeram parte da nossa vida algum dia... 
     Por vezes há aqueles amigos que tivemos e um dia perdemos o contacto com eles e até nunca mais os vemos pessoalmente, outros encontramos de novo, por vontade ou coincidência e a alegria é imensa e mesmo depois de tanto tempo sem contacto pessoal é como se sempre estivéssemos juntos. Outros, sentimos que houve mudança, da parte deles, da nossa parte e talvez haja alegria do reencontro mas já não existe aquela intimidade que houve um dia. 
     Pessoas vêm, pessoas vão, amizades ficam outras também se vão... E é assim a vida.
     Mas no meio daqueles conhecidos todos que temos que talvez chegamos mesmo a chamar de amigos existem sempre aqueles que o são realmente. E esses, longe ou perto, muitos ou poucos anos, esses sempre estarão no nosso coração. E esses sabem, mesmo que nunca o tenham ouvido da nossa boca, que aquela frase "gosto muito de ti" é tão verdadeira.

Ellen

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 (cont.) - A Sobrinha de Gonçalo

      - O almoço está pronto.
     Marta continuou a olhar pela janela fingindo  não ouvir o tio. Chuviscava e o vidro estava embaciado. Marta limpou o vidro com a pequena mão e continuou a olhar para os campos que se estendiam até onde a vista alcançava. 
     Já passara uma semana e a mãe insistira com Gonçalo se ele não podia cuidar da criança mais alguns dias e ele não tivera coragem de dizer que não... 
     Marta tinha 5 anos e meio, era pequenina e magrinha, com expressão fechada, olhos tristes e era muito teimosa. Desde que viera, contra a sua vontade, ter com o tio, não falava mais do que o essencial e passava a maior parte do tempo a brincar sozinha debaixo da árvore no cume da colina.
     Gonçalo decidira passar as suas férias naquela casinha de madeira que pertencia a algum familiar dele, ou pelo menos alguns dias para descansar. Tentou ganhar a confiança de Marta sem grande sucesso. A miúda continuava apática como no primeiro dia.
     - Anda comer.
     - Não quero. Vem aí alguém.
     - Vem? - Gonçalo foi até a janela e ao ver quem era virou-se para a miúda e disse todo feliz enquanto a levantava ao ar:
     - É a May!
     Marta mostrou-se surpresa mas não se queixou por ele a levantar e abraçar, e se Gonçalo tivesse reparado naquele momento na cara da menina teria visto um quase sorriso.
     - Quem é a May?
     - Vou apresentar-ta. Anda. - Gonçalo pegou na mão de Marta e foi com ela até a porta.
     - Tu aqui! - Gonçalo não podia estar mais feliz com aquela surpresa. Não esperava vê-la tão cedo.
     May abaixou-se e disse sorrindo para a menina:
     - E tu deves ser a Marta.
     - Sim. - Marta olhava-a meia desconfiada mas sem se afastar.
     - Vieste na altura certa, fiz agora mesmo o almoço.
     Sentaram-se os três na mesa e quando May viu que Marta mal tocava na comida disse-lhe:
     - Tens medo dos cozidos do Gonçalo? Eu também tinha no inicio... Mas não te preocupes até é bom.
    - Medo? Quase que devoraste a comida quando cozi para ti a primeira vez.
    - Hahaha claro...
    Marta pensou uns segundos e começou a comer e pelos vistos gostou mesmo do que comia, até repetiu o prato.
    Nessa tarde quando Marta brincava lá fora, Gonçalo contou a May como estava a ser difícil lidar com a criança.
   - Estou tão feliz estares cá... Ela gosta de ti.
   - Achas?
   -Tenho a certeza que sim.
   Olharam pela janela e viram uma criança que parecia alegre pela primeira vez a correr pela colina.

(continua...)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Momento

     O sol entra pela janela iluminando um canto do quarto e a estrela de papel colada no vidro brilha como se fosse verdadeira. Um quarto desarrumado, cheio de brinquedos e desenhos nas paredes que pertence a alguma menina... De facto no meio do quarto, ajoelhada em cima de um tapete, uma pequena menina brinca com uma casinha de barbie enquanto cantarola e fala com os brinquedos. É uma menina linda que dá vontade de olhar o dia inteiro. Os cabelos loiros, um pouco abaixo dos ombros embelezam aquela carinha expressiva. Os olhos de cor indefinida, azuis ou cinzentos não sei, a cara salpicada com algumas sardas, boca vermelha e quando ela sorri... O Mundo cai-lhe aos pés. No entanto ela não tem noção de nada disso... é  uma  pequena menina perdida no seu Mundo de fantasia. 

Ellen

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 3 - Coincidência

     O Mundo é grande e ainda assim pequeno. Porque senão, como é possível que no meio de tantas pessoas que existem são exactamente aquelas duas pessoas que se encontram? Coincidência... Ou procura.
     Sue estava sentada em frente de um monte de documentos sem vontade nenhuma para ler aquilo tudo, já haviam passado algumas horas e ainda faltava mais de metade... Passar os últimos dois dias de férias a estudar não era nada fácil mas tinha de ser...
     Sue olhou para o relógio, eram 22:10, a noite ainda seria longa... Com sorte deitar-se-ia as 1:30. 
     Estava um calor... Sue foi abrir a janela e quase derrubou a orquídea mas ainda conseguiu segurá-la a tempo.   As pétalas estavam murchas, a planta precisava urgentemente de ser regada.
     - Nem tempo para regar uma planta tenho, que miséria. - pensou enquanto regava a flor.
     Eram 22:20 quando o telemóvel tocou. 
     - Sue? Olha é o Sebastião, estou aqui na festa da praia com a malta vens ter connosco?
     - Não posso, tenho de acabar de organizar os documentos, quero ver se acabo tudo até amanhã.
     - Vá lá, vens só um bocadinho, aposto que estiveste fechada em casa o dia todo.
     - Não dá... E sinceramente não estou com muita vontade para festas agora.
     A janela estava aberta mas o calor era o mesmo. Um calor sufocante que só tornava tudo ainda mais cansativo...
     22:30. Sue estava prestes a adormecer a olhar para os papéis quando lhe bateram à porta e Sebastião entrou de rompante. 
     - Que fazes aqui? Pensava que estavas na festa.
     - E estava, e volto já para lá. Contigo.
     E antes que ela pudesse responder, ele agarrou-a puxando-a para  a porta.
     - Andaste a beber? Já disse que não quero!
     No entanto, Sebastião tanto insistiu que ela acabou por entrar no seu carro. 
     Era uma noite clara, com o céu cheio de estrelas e uma lua quase redonda. A casa de Sue não era muito longe da praia e em 10 minutos estavam lá. Havia barracas ao longo de toda a praia, música e imensas pessoas. 
     - Onde está o resto do pessoal?
     - Algures por aí... Queres ir ter com eles?
     - Agora não... Talvez daqui a bocadinho. Tenho sede.
     Foram comprar qualquer coisa para beber, a frente deles estavam dois rapazes, o mais pequeno discutia com um outro:
     - Ganhei a aposta, tens de pagar! 
     - Pensas que ganhaste, daqui a bocadinho vais ver que não... Mas não seja por isso eu pago.
     Sue viu o rapaz que estava à sua frente, de costas, e parecia-lhe familiar... Onde já o tinha visto?
     O jovem pagou e virou-se para ir embora quando também a viu. Hesitou por um segundo e disse sorrindo:
     - Eu conheço-te! Ainda não tivemos oportunidade de nos apresentar, sou o Xavier e este é o meu primo Duarte. - disse, estendendo-lhe a mão sem nunca deixar de sorrir.
     - Sue e Sebastião. - respondeu apertando-lhe a mão.
     Caminharam um bocado juntos pela praia, e no meio da conversa Xavier e Sue ficaram um bocadinho para trás. 
     - Recebeste a orquídea?
     - Recebi.
     - Quando a vi lembrei-me daquela vez em que te ouvi tocar e cantar da tua janela por isso é que quis oferecê-la mas pensando bem se calhar o teu namorado não achou muita piada...
     - Ele não é meu namorado, somos colegas de trabalho e melhores amigos. 
     - Xavier, já são 23:00 temos de ir.
     - Já?! Vamos. Temos um encontro com amigos, já devem estar à nossa espera, temos de ir.
     Despediram-se a caminharam apressadamente para o meio da multidão.
     Sebastião e Sue continuaram a caminha à beira da água.
     - Então valeu a pena sair de casa?
     - Sempre deu para lavar as vistas. - respondeu ela a rir.
     Sebastião deu um pontapé na água molhando-a a qual ela respondeu de volta e pouco tempo depois estavam ambos molhadas e acabaram por se atirar à água. Estava calor mas À medida que o tempo passava começou a ficar frio. E quando saíram da água Sue tremia com os lábios roxos.
     Voltaram para o carro e Sebastião buscou uma mantinha ao porta bagagem no qual ela se embrulhou.
     Quando chegou a casa ignorou o monte de documentos que a esperavam, amanhã acabaria o resto.

(continua...)

      
     

terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 (cont.) - Uma Visita à Casa dos Avós

     Estamos habituados a uma rotina, algo natural do dia-a-dia, até que um dia deixa de ser... E de um momento para outro começamos uma nova rotina, uma nova vida.
     A noite caía lentamente, os últimos raios de sol batiam contra o vidro do mini cooper verde, quase cegando Maggie que conduzia naquele final de tarde em direcção à casa dos avós.
     Já passara bastante tempo desde a última vez que ela os tinha visitado o que tornava a saudade ainda maior...
     Maggie pôs os óculos de sol e começou a cantar ao som de Daughtry cada vez mais feliz à medida que se aproximava de casa.
     Já não vivia em casa deles há quase dois anos, mas aquele seria para sempre o seu lar.
     Quando finalmente chegou a casa, cansada da longa viagem, já era noite escura. Maggie abriu a porta de mansinho e viu o avô deitado no sofá a dormir, a avó atarefada com um enorme bolo de chocolate e o cão  deitado no canto da sala. A alegria do reencontro foi enorme.
     - Até quando ficas aqui?
     - Até terça, depois tenho de voltar para as aulas...
     Maggie já não vivia em casa dos avós há algum tempo pois surgira uma oportunidade dela estudar música mas demasiado longe de casa para ela ir e vir todos os dias, então decidira alugar uma casa mais perto do local.
     - Conta-nos todas as novidades. Como é viver sozinha?
     Gastão (o cão), parecia louco e corria e saltava à volta de Maggie todo feliz enquanto ela atacava o bolo.
     - Quero voltar para casa.
     O avô olhava para a neta todo babado enquanto a avó fazia mil e umas perguntas.
     Aqueles três dias passaram a correr, para Maggie foi quase como se ela nunca tivesse saído de casa, no entanto ela não deixou de reparar que o tempo também havia passado naquela casa. A energia já não era a mesma, e eles já tinham dificuldades em meter Gastão na linha.
     - Venham viver comigo, tenho saudades vossas.
   - Enquanto pudermos vamos ficar por aqui... Já são muitos anos passados aqui para nos mudarmos agora...
     - Assim que acabar o curso volto para cá.
     - Quando são as tuas próximas férias?
     - Ainda não sei... mas não tão depressa... Vou levar o Gastão comigo. - disse Maggie a brincar enquanto abraçava o cão.
     - Leva-o. - respondeu a avó depois de pensar um bocadinho.
     - A sério? Mas...
    - Sim, vai ficar grande parte do dia sozinho, mas é melhor para ele e para ti também. Assim nunca estarás sozinha quando voltares para casa. E assim pensas sempre de nós.
     - Não preciso do Gastão para pensar em vocês. Mas não me importava nada de levá-lo comigo...
     -Leva-o e logo vês se dá para ele ficar contigo ou não, se não der ele volta para cá.
     Terça-feira, quando o sol se punha mais uma vez Maggie conduzia de volta, não para a sua casa, pois sua casa seria sempre aquela que ela deixava para trás. E não ia sozinha pois ao lado dela ia Gastão, aquele cão que conhecia grande parte dos segredos da vida de Maggie e dos avós após vários anos de convivência com eles, mas é pouco provável que descubramos algo por meio dele...
     O céu escurecia, não devido à chegada da noite mas devido à chegada da tempestade. Seria uma viagem longa e nada fácil. Se Maggie soubesse o que a esperava ainda, teria faltado as aulas do dia seguinte, o que de qualquer maneira acabaria por acontecer, e teria ficado mais uma noite em casa dos avós. Aquela seria sem dúvida uma noite muito marcante...

(continua...)

 
Com a colaboração da Andreia :)

terça-feira, 7 de junho de 2011

O conto do impossível

     Vou contar-te uma história. Podes acreditar nela se quiseres ou pensar que seja apenas um conto, talvez tenha vontade de te contar essa história que um dia ouvi ou talvez essa história exista apenas na minha imaginação... Pensa como quiseres, no final de contas, qual seria a piada se não houvesse um pouco de mistério em cada conto...
      Era uma vez, um monte, um pôr do sol, um campo de girassol, um menino, uma menina e um Mundo. 
     Esse menino e essa menina conheceram-se um dia, num dia como outro qualquer, e ninguém diria que de alguma forma esse dia mudaria durante muito tempo as suas vidas, quem sabe mesmo até para sempre.
     Criou-se uma linda amizade e começaram a passar imenso tempo juntos, conversando e rindo ou apenas estando um ao lado do outro em silêncio ouvindo os pensamentos secretos um do outro...
     E o tempo foi passando, e a amizade crescendo, se é que lhe queres chamar amizade, até que... como não podia deixar de ser, decidiram ficar juntos o resto da vida e viveram felizes para sempre na encosta de um monte, por trás de um campo de girassol onde o pôr do sol iluminava aquele infinito amor...  Não acredites, é mentira.
     O pôr do sol por trás dos montes e o campo de girassol foi a primeira coisa que ela "viu" quando olhou para aqueles olhos claros que sorriam para ela e voltou a "ver" isso muitas vezes ainda, mas nem tudo é simples, nem tudo é justo, nem tudo tem um final feliz. E há coisas que simplesmente não podem acontecer que nunca darão resultado. Por mais voltas que se dê, por maior que seja a vontade nunca deixa de ser impossível. E ambos sabiam disso. E por isso mesmo, talvez pudesses ler amor em cada sorriso e em cada palavra que aquele menino e aquela menina trocaram, mas mais forte ainda poderias ler o adeus. Despedir-se de algo que nunca chegou a acontecer... De algo que nunca acontecerá. E o monte ainda é, e o campo de girassol e o pôr do sol também... Sempre será, mas apenas visível nos olhos dele.
     E assim acaba este conto, não te sei dizer se foi triste acaso o dia em que aqueles dois se conheceram ou se foi acaso feliz, mas o que sei é que aquilo mudou a vida de ambos durante muito tempo. Até que um dia ele esqueceu e ela também e seguiram a sua vida, cada um a sua própria. E já não sentiram mais saudades... Ou pelo menos fingiram que não. 

     Ellen

     
   

sexta-feira, 27 de maio de 2011

     Estava à beira de escrever uma longa "história"... Mas se o fizesse estaria a admitir que essa história existe quando na realidade não existe porque não pode existir. E felizmente nunca acontecerá... É impossível e que seja impossível... Porque é assim que tem de ser.

     Ellen

sábado, 21 de maio de 2011

Caminho sem fim

     Escrevo palavras que não sei se fazem sentido, que aparecem na página pintada de branco como que escritas por mãos de outrem, pensamentos que não são meus mas sim roubadas de alguém e no entanto, sentidas por mim também.
     Dói... Porque sim e apenas porque sim. Se pudesses olhar para ti neste momento e ver a tristeza que se reflectem nos teus olhos, se pudesses sentir os teus passos que caminham sozinhos por aquela estrada sem fim, sempre o mesmo caminho sonhando que talvez depois da próxima curva apareça algo diferente, esperando que talvez, se sempre continuares a andar, um dia chegarás ao fim e encontrarás aquilo que tanto desejaste, aquilo pelo que sempre lutaste e não te dás conta que o fim é igual a tudo o resto... E as voltas que dás são sempre as mesmas, tropeças sempre pelas mesmas pedras e andas sempre à beira do mesmo precipício. Sim se pudesses ver-te agora tenho certeza que ficarias triste por ver alguém tão triste como tu.
     Porque de um momento para outro as coisas mudam, querias tanto que mudassem e no entanto, tudo parecia ser o mesmo e agora mudou e o que virá daí? Era esta a mudança que querias?
     O céu ficou escuro e começa a trovoada e a chuva cai como se estivesse zangada, talvez corra para o abrigo, ou quem sabe, talvez fique aqui fora a ver a chuva cair e "ver-te" caminhando no meio dela como se já nada importasse e dói tanto ver-te carregar toda a tristeza do mundo, e no fundo eu tenho esperança que a cega seja eu, não sei, mas se calhar, carregas a tristeza toda nas tuas costas para levá-la para bem longe, para o fim daquele caminho que é só teu e então, quem sabe, então talvez te relembres o que é ser feliz.

Ellen

domingo, 15 de maio de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 (cont.) - A História de Anny

Anny sempre sonhara em um dia abrir a sua própria galeria mas as coisas não estavam fáceis. Trabalhava grande parte da semana numa empresa de multimédia e fazia quadros no seu tempo livre que vendia ao homem que já foi referido na história, que lhe pagava muito mal.
     De vez em quando algumas pessoas pediam-lhe para desenhar alguém através de uma foto o que lhe dava especial agrado pois assim não dependia do Mr “ I’m the Boss”.
     Até agora, a vida de Anny havia sido um bocado monótona, até algum tempo atrás, em que aconteceu algo que ela não esqueceria tão depressa. Um dia ligaram-lhe a perguntar se ela poderia fazer um quadro com uma certa foto. Claro que ela aceitou e qual foi a sua surpresa quando uma senhora trouxe a foto de um rapaz que havia sido da sua turma há alguns anos. Anny olhou para a foto que mostrava o jovem agora mais velho, mas com a mesma cara risonha que a fascinara por algum tempo.
     - Quero oferecer alguma coisa ao meu filho, então lembrei-me, já que ele gosta tanto de pintura e não muito de fotografia, oferecer-lhe um quadro dele próprio mas sem ser uma fotografia..
     - Pois o David nunca gostou de fotografias.
     - Oh, conheces o meu filho?!
     Quando a senhora soube que eles haviam sido amigos há alguns anos atrás, obrigou Anny a ir tomar café com ela e conversou sem parar, ligando mesmo ao filho para que este viesse imediatamente “(re)conhecer uma pessoa maravilhosa que ela acabara de encontrar”.
     David não tinha a intenção de se encontrar com mais uma maravilha que a sua mãe descobrira mas ao ouvir que era alguém que ele próprio conhecia e já que estava perto do café decidiu entrar e ver quem era.
     Ao ver Anny, a cara de David abriu-se num grande sorriso, abraçou-a e sentou-se na mesa delas.
     - Nunca pensei que a minha mãe pudesse estar a falar de ti. Que tens feito da vida?
     Ficaram na conversa bastante tempo, entretanto a mãe teve de se ausentar e ficaram os dois. David contou que tinha tirado o curso de mecânico e agora trabalhava numa empresa automóvel. Já começara a escurecer e David quis acompanhá-la até casa. Passearam juntos, não apenas nesse dia mas também durante os próximos encontraram-se algumas vezes. E à noitinha Anny ficava ao pé da janela do seu quarto pintando numa tela aquela fotografia. De um momento para outro os seus dias deixaram de ser monótonos e Anny deixou de se sentir sozinha, aguardando ansiosamente o momento do dia em que se encontraria com David ou aquelas horitas que passaria a pintar.
     Certo dia, quando mais uma vez, David a acompanhou a caminho de casa, ambos caminhavam silenciosos e devagar como que prolongando o momento da chegada.
     - Gostei imenso de voltar a ver-te depois destes anos... Sabes, acho que nunca te disse mas quando estudávamos juntos eu sempre gostei um bocado de ti, mas eras tão tímida nunca tive coragem de dizer alguma coisa...
     Anny olhou-o timidamente e baixou o olhar envergonhada e disse baixinho:
     - Tenho pena que não o tenhas dito... 
     David sorriu surpreso e afastou uma madeixa do seu longo cabelo dourado escuro. Anny sorriu e beijou-o tímidamente... Mais tarde não conseguiu lembrar-se se levara muito ou pouco tempo... Já estavam perto da casa de Anny, e enquanto ainda se beijavam o telemóvel de David começou a tocar. Ele foi ver quem era e disse:
     - É a minha namorada, bem ela que espere.- disse enquanto tentava beijá-la de novo.
     Naquela altura a única coisa que Anny conseguiu dizer foi:
     - Vai-te embora.
     Quando chegou a casa viu o quadro já pronto, ao pé da janela com a cara de David sorrindo como que a fazer troça dela, "iluminado" com os raios de sol que entravam pela janela naquela tarde.
     Pegou no quadro atirando-o para o fundo do caixote do lixo e quando a mãe dele ligou a perguntar pela encomenda disse-lhe que não conseguiu fazê-lo.
     Vale a pena conhecer algumas pessoas, outras pensa-se que vale a pena mas no final chega-se à conclusão que mais valia nunca se ter conhecido.
     E se isto é o final da história de Anny e David certamente não será o final da história de Anny, ainda há muita coisa para contar...


(continua...) 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 2 - Um Lugar Secreto...

     “Nunca desistas de tentar alcançar a lua pois o pior que pode acontecer é ires parar a uma estrela.”
     May escrevia debruçada sobre o seu caderno sentada na relva na descida da colina, de pernas cruzadas, olhando de vez em quando para o céu que escurecia demasiado rápido prometendo chuva para breve.
     Um lugar à parte do mundo, eis o que parecia, aquela encosta com uma pequena casinha de madeira com aspecto velho, ao pé de um enorme eucalipto que se erguia em direcção ao céu como se fosse o dono do Mundo. Parecia um lugar meio solitário, com apenas uma única árvore numa área grande e os campos abandonados onde começavam a florir as primeiras flores. Para May aquele era de certa forma o lugar secreto que lhe permitia esquecer o dia-a-dia, o lugar onde se respirava paz. Talvez no início houvesse a tendência de lhe chamar “um lugar onde o tempo parava”, mas May descobriu desde bem cedo que pelo contrário, era “um lugar onde o tempo decidia ganhar a corrida de velocidade”.
     May olhou para o seu lado onde estava Gonçalo, de olhos fechados, deitado na relva, com ar cansado e feliz. Adivinhando que estava a ser observado, Gonçalo abriu os olhos e perguntou sorrindo:
     - O que estás a escrever?
     - “Nunca desistas de alcançar a lua pois o pior que pode acontecer é ires parar a uma estrela”. Li isto algures e gostei… Não deixa de ser verdade.
     - Hum, e eu sou o quê? A lua ou uma estrela?
     - Tu sabes. - May riu-se e deitou-se também e ficaram ambos a olhar o céu que trazia uma nuvem escura e pesada, em silêncio. Não havia nem uma única brisa que movesse as ervas do campo e estava um silêncio em que quase dava para ouvir o som do bater do coração.
     - Se ficarmos aqui vamos apanhar uma bela molha.
     - Não faz mal, assim ficamos os dois doentes e não vais trabalhar.
     - Ah claro.
     - Vem, a Martinha deve estar prestes a chegar. Estou ansioso para conhecer a minha sobrinha, depois de 5 anos.
     Naquele momento mal sabia ele como a vinda da sua sobrinha afectaria a sua vida…
     - Sim, eu também, mas tenho de ir embora… - disse May, sem se levantar e ambos continuaram deitados, até sentirem os primeiros pingos de chuva que se tornou rapidamente num temporal. Levantaram-se ambos de rompante e correram pela colina até a carrinha.
     Marta chegou nessa noitinha. Ainda chovia torrencialmente e quando Gonçalo abriu a porta depois de ouvir bater, viu uma menina completamente molhada, que chorava compulsivamente agarrada à mãe.
     Gonçalo lembrava-se vagamente da sua cunhada, já não a via há anos e ao vê-la novamente, lembrou-se que nunca a achara simpática.
     - Vá Marta, a mãe tem de ir embora, ficas bem aqui com o tio. – disse enquanto a empurrava impacientemente.
     - Não quero, não quero, não quero. - a menina agarrava-se com toda a força a perna da mãe.
     Depois de algum tempo, a mulher finalmente conseguiu que a miúda a largasse e foi-se embora rapidamente.
     Mais tarde Gonçalo lembrou-se do quão estranho tinha sido o facto da miúda chegar completamente molhada enquanto a mãe estava bem seca.
     Entretanto, Marta tornara-se apática e sem dizer uma única palavra, trocou de roupa depois de Gonçalo insistir várias vezes. Depois sentou-se ao pé da janela e ficou a olhar a rua, com a cara apoiada nas mãos.
     Gonçalo tentou muitas vezes meter conversa com ela mas sem resultado. Depois do jantar que ela mal tocou, Marta foi-se deitar e Gonçalo ficou a imaginar se ela estaria a dormir ou apenas a fingir que dormia. E mais uma vez sentiu-se perdido e pensou como seria bom se May estivesse com ele naquele momento. Não apenas naquele momento mas sempre.

(continua…)

sábado, 16 de abril de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 1 (cont.) - A História da Orquídea

     Algumas horas antes da orquídea ir parar às mãos de May...
  
     Duarte olhou pela janela e viu o primo sair para a rua. Aproveitando aquela manhã de sol, Xavier não pegou no carro mas foi a pé até ao centro da cidade, onde haveria uma grande feira naquele dia. Duarte esperou que o primo se afastasse um bocado, depois pegou no casaco e desceu as escadas a correr para seguí-lo de longe.
     Já havia algumas pessoas lá, principalmente aquelas que queriam ser os primeiros a ver tudo o que a feira tinha a oferecer e Xavier também era um desses. Entretanto, Duarte chegou à feira e começou a passear entre as barracas quando sentiu uma mão a bater-lhe no ombro. Virou-se e com um ar surpreendido disse a Xavier:
     - Primo, também vieste ver a feira? Pensei que ias encontrar-te com uma rapariga, e como não me apeteceu ficar sozinho em casa, decidi vir ver a feira.
     - Haha, nada mau, nada mau... Eu sabia que irias seguir-me. Bem, eu vou encontrar-me com alguém, ou pelo menos tentar, onde não me vais seguir, mas achas mesmo que eu iria de mãos vazias?
     - Então até já dão presentes um ao outro... Parece que as coisas estão a correr bem.
     - Sim, se não contarmos com o facto dela nunca ter falado comigo... Anda escolher um presente comigo.
     - A que horas é esse encontro?
     - Não tenho horas.
     - Então podemos ir à barraca das apostas e ganhar dinheiro para comprar o melhor presente da feira, que tal?
     - Não. Vamos comprar logo o melhor presente, sem apostas.
     - Tás a pensar em comprar o quê?
     - Provavelmente uma flor...
    - Uma flor?! Uma flor vai ser o melhor presente? - Duarte não conseguiu esconder a decepção.
     - Tudo depende da flor.
     - Tu é que és o mestre. - Duarte seguiu Xavier, olhando sem pachorra para a banca enorme cheia das mais variadas flores. E como Xavier levava tanto tempo a escolher, Duarte sentou-se no banco e começou a olhar para as pessoas que andam por ali... A barraca mais próxima era de pinturas e um pouco afastada, uma jovem desenhava numa tela a cara de alguém a partir de uma foto. Duarte que se interessava bem mais por pintura do que por flores, aproximou-se da barraca observando as exposições e também a rapariga que pintava na entrada. Um homem com cara demasiado antipática para atender as pessoas, pensou Duarte, estava dentro da barraca a controlar os quadros. Ao ver Duarte, disse para a rapariga que estava pintando:
     - Anny, anda mostrar os quadros a este cliente.
     - Oh, pode continuar a pintar, vim só dar uma vista de olhos enquanto espero que meu primo escolha uma flor para oferecer. E parece que vai lá ficar uma hora...
     - Esta barraca é para vender quadros, não para mostrar quadros. - respondeu o homem sem sorrir enquanto ia para o fundo da barraca arrumar coisas. 
     Duarte afastou-se e ao passar por Anny disse baixinho:
     - Boa sorte em tentar vender alguma coisa. Seria melhor se fosse atender os clientes em vez dele...
    - Eu sei... Mas não posso fazer nada, trabalho para ele. Então teu primo não sabe que flor escolher? Orquídeas são sempre bonitas...
     - Obrigado, vou dizer-lhe. Então vais ficar aqui o dia todo a pintar?
     - Provavelmente.
     - O quadro dela ainda não está pronto e já tem dono. - disse o homem antipático ao ver que Duarte ainda não se tinha ido embora.
     Duarte olhou com pena para Anny e esta encolheu os ombros com expressão: "não faz mal".
     - Compra uma orquídea. - disse ao aproximar-se de Xavier, no entanto, este já estava com um vaso na mão com uma orquídea.
     - Pensava que ias comprar um ramo, não um planta.
     - Os ramos secam, a planta dura. E como não sei se ela gosta realmente de orquídeas, este vaso é uma obra de arte feita a mão, é provável que goste dele. Eu vou-me andando ficas por cá ou vais para casa?
     - Se calhar ainda fico por cá um bocado... Depois contas-me tudo, certo?
    - Vou pensar no assunto.
     Duarte ficou a ver o primo afastar-se com o vaso nas mãos, o que lhe deu vontade de rir. Olhou para Anny que continuava a pintar na tela, pensando se devia ou não comprar alguma coisa, mas depois lembrou-se que não tinha dinheiro e afastou-se.
     Xavier apressou o passo e caminhou por aquela rua já conhecida até a janela de uma casa. No entanto a janela estava fechada e ninguém cantava do outro lado. Dando a volta, tocou à campainha.
     May parou com as limpezas perguntando-se quem seria, não poderia ser a Sue ainda. Ao abrir a porta deparou-se com um homem que não conhecia com uma orquídea num vaso, na mão.
     - Bom dia,  passei por cá a semana passada num dia de chuva e ouvi-te cantar ao pé da janela... A verdade é que aquele foi um dia mau para mim e depois de ouvir-te cantar fiquei a sentir-me melhor e queria agradecer por isso, e penso que esta flor até ficaria bem no parapeito da janela... - disse Xavier com um sorriso meio embaraçado.
     - Deves estar a falar da minha irmã, ela é que vive aqui, só vim passar cá uns dias com ela.
     - Oh desculpa, pensei que fosses mesmo ela, à primeira vista são bastante parecidas...
     - É, dizem que sim.
     - Será que lhe podias dizer que lhe mandei isto? Já agora, chamo-me Xavier.
     - Uma orquídea do Xavier. Será entregue.
     - Obrigado e desculpa o incómodo...
     Xavier afastou-se da casa, afinal as coisas não tinham corrido bem como ele havia imaginado, mas o principal estava feito. E ao dar a volta viu o vaso no parapeito da janela.
   
(continua...)

domingo, 3 de abril de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 1 (cont.) - Desejo de Criança

     As pessoas aproveitavam o belo dia para passear, fazer compras, arejar e apanhar um pouco de sol. Estávamos  no início da Primavera, e Maggie descia a rua para o centro da cidade, conversando alegremente com a avó que decidira acompanhá-la.
    A avó olhava para a sua neta já tão crescida e lembrou-se de um acontecimento passado já há muito tempo, quando Maggie ainda nem tinha 3 anos. Numa certa tarde de Verão, passeavam ambas à beira rio, Maggie toda fofa com os seus ténis novos, e com a expectativa do gelado que receberia em breve quando chegassem à barraca. As esplanadas estavam cheias de gente, e no entanto tudo parecia envolto numa estranha solidão... Os músicos tocavam na rua e Maggie parava cada vez que via um e ficava a ouvir até a avó insistir para continuarem.
     Finalmente chegaram à barraquinha dos gelados e Maggie recebeu o seu prometido gelado. Estavam muitas pessoas na fila e ela afastou-se um pouco de sua avó que ficara a comprar o seu. Num banco, sentada sozinha, uma jovem chorava. Maggie aproximou-se dela e perguntou, tocando-lhe de leve para chamar a sua atenção:
     - Porque choras?
     A jovem mulher, nem se deu conta daquela criança que chamava por ela, mas depois viu-a e respondeu-lhe depois de pensar um pouco:
    - Alguém decidiu acabar com o meu sonho... Ou se calhar nem todos os sonhos são para serem concretizados...
     - Não fiques triste... Queres um gelado? Quando tou triste e como gelado fico sempre melhor.- disse a pequena  Maggie estendendo-lhe o seu.
     A jovem ficou a olhar para aquela menina tão pequena e ao mesmo tempo tão grande sem deixar de sorrir.
     - Obrigada, mas fica tu com ele.- respondeu, passando a mão num gesto carinhoso pelo cabelo de um loiro quase branco de Maggie.
     Entretanto a avó que vira tudo, chegou e levou Maggie consigo, explicando-lhe mais uma vez que não se falava com estranhos no caminho.
     De volta a caminho de casa, Maggie estava estranhamente calada. E depois disse, com toda a seriedade que uma criança de 3 anos poderia ter, aquela frase que sua avó se lembraria por muito, muito tempo:
     - Quando eu for grande quero ajudar pelo menos uma pessoa a realizar o seu sonho.


(continua...)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Entrelinhas da Vida - Capítulo 1 - A Orquídea

    Dois jovens sentados frente a frente numa pequena mesa com um um tabuleiro de xadrez a separá-los.
  O mais novo olhava com  toda a concentração para os passos do adversário, puxando o cabelo loiro para trás que insistia em lhe cair para os olhos.
  Com os seus 18 anos parecia ter 16, era pequeno e franzino de olhos demasiado azuis que pareciam quase falsos. Brincava nervosamente com as peças que tinha conquistado do adversário, cuja maioria estavam na sua mão. Queria por força ganhar o jogo e parecia estar prestes a conseguí-lo.
  Um raio de sol espreitou pela janela, iluminando aquele quarto enorme e mostrando o pó que brilhava naquelas mobílias luxuosas. Parecia que pouco a pouco a Primavera decidira acordar, prometendo uma manhã clara como já não havia há dias.
   O mais velho, que devia ter entre os 20 e 30 anos, parecia perdido nos seus pensamentos sem prestar grande atenção ao jogo. Quando viu a manhã clarear, levantou-se da mesinha abandonando o jogo e foi até ao guarda-fato, para escolher cuidadosamente a roupa e o perfume para aquele dia.
   - Hey, vais desistir do jogo!?- perguntou o mais novo semi revoltado.
   - Calma primo, tudo a seu tempo. 
   Sem pressa, o mais velho voltou para a mesa e sem se sentar moveu o único cavalo que tinha dizendo:
   -Xeque-mate.
   O novato ficou a olhar estupefacto para se dar conta de que realmente acabara por perder o jogo, como de costume aliás.
  O vencedor olhou sorrindo apenas com a boca para o primo e disse-lhe, simplesmente:
  - Não te preocupes, és um bom jogador. Continua e um dia farás parte dos melhores.
   - Claro, afinal é só um jogo...- disse resignado, arrependendo-se logo das suas palavras ao ver o olhar sério que o primo lhe lançara. 
   E ao ver como o outro se preparava a rigor para sair, invejando secretamente a sua altura, força, bem parecer e inteligência do primo, perguntou:
   - Onde vais?
  - Preciso encontrar uma certa pessoa... Já passou uma semana, hoje é o dia.- respondeu-lhe mais para si próprio do que outra coisa.
  O pequeno olhou-o surpreendido pela seriedade da sua expressão, enquanto o mais velho o olhava fixamente, como quem diz: "percebeste?"
   A surpresa do moço passou, e ele começou a rir-se:
   - Uma rapariga?
  O outro baixou os olhos e puxou o fecho do casaco parecendo embaraçado, o que resultou no, ainda maior, riso do primeiro. 
  Xavier, era esse o seu nome, sorriu-lhe dizendo com o olhar: "sabes bem", e depois saiu para aquela manhã clara, quase primaveril.

***

   Sue caminhou apressadamente até à estação de comboio, por aquele caminho tão conhecido enquanto mil e umas recordações lhe passavam pela cabeça do seu tempo de universidade quando tinha de percorrer aquele caminho todos os dias. Já lá iam algum tempo e no entanto parecia ter sido ontem.
   O carro com o qual costumava ir ao trabalho ainda estava na oficina e lá ficaria até ao final da semana.
   Eram 6:00 horas da manhã, noite escura ainda, mas não tardaria muito até ao nascer do dia.
   Sue amaldiçoou mais mais uma vez a hora em que o carro deixara de andar, senão ainda estaria a dormir durante mais uma bela hora. Lembrou-se de May que viera passar uns dias com ela e que prometera acompanhá-la até a estação, mas quando saiu de casa sua irmã dormia tão profundamente que Sue não teve coragem de acordá-la.
   O comboio já lá vinha e Sue entrou numa carruagem e qual não foi a sua surpresa ao ver o enfermeiro Sebastião, seu melhor amigo.
   Sebastião arregalou os olhos e disse com cara de assustado:
   - Doutora Sue?!
   - Eh Skinny.- respondeu ela rindo e sentando-se à sua frente, de modo que o comboio parecia andar para trás.
   - Tudo bem? Como é, vais também de comboio hoje?- perguntou-lhe aquele homem moreno, alto e magro, demasiado magro que lhe dava um ar frágil e que lhe custou o apelido de Skinny.
   - Tou sempre bem... O carro avariou, portanto esta semana vai ser sempre comboio.
   - Não é mau de todo, vou sempre de comboio para o trabalho.
   - Também gosto de andar de comboio, mas de carro levanto-me mais tarde e levo metade do tempo.
   - Pois... São quase duas horas de viagem... Se quiseres dorme e acordo-te quando chegarmos.
   - Agora não consigo mais.
  - Vem sentar-te deste lado, o nascer do sol é muito mais lindo de se ver deste lado. O céu está claro, parece-me que vamos ter um belo dia hoje.
   Sue sentou-se ao lado do amigo. A carruagem estava praticamente vazia, com excepção de um casal de velhotes, um jovem adolescente que dormia com a cabeça caída para frente, uma solteirona de meia idade que lia revistas em cuja capa sorria o Bieber, e um casal de namorados, juntos com uma amiga.
   - Costuma estar sempre assim vazio?
   - Quase sempre. Vais ver, daqui a quinze minutos a velhota vai pegar no sono e o velhote não vai tirar mais os olhos da senhora das revistas, mas ela não dá por isso e sai na próxima estação. O adolescente começa a babar-se até acordar por sentir a baba escorrer, limpa com a manga e volta a dormir. A miúda que está com o casal de namorados é a melhor amiga da rapariga, mas está apaixonada pelo rapaz, ele sabe e acha piada, a namorada não sabe de nada. A velhota vai começar a falar sozinha enquanto dorme e o marido responde-lhe sem saber bem o quê... E basicamente é isso.- respondeu-lhe baixinho de modo a que ninguém ouvisse.
   Sue riu-se e observou disfarçadamente os companheiros de viagem. E realmente, aconteceu exactamente como Sebastião dissera, excepto o facto do velhote em vez de olhar fixamente para a mulher das revistas olhava muita vez para eles os dois.
   - Está a pensar que és minha namorada.- disse Sebastião.
   - Não seria o primeiro...
   No hospital muitos pensavam isso, que havia algum romance por trás daquela amizade, outros pensavam que Sebastião "se fazia" a ela por questão de interesse... Mas não era verdade, Sue e Sebastião já se conheciam há cerca de dois anos, e tornaram-se os melhores amigos apenas.
   Distraídos nem deram pelo clarear do céu e quando olharam pela janela, o sol já vinha por trás dos montes...
   - Oh perdemos a melhor parte... Pode ser que amanhã seja ainda mais bonito. Nesta viagem o nascer do sol é a única coisa que é diferente todos os dias.
   Ambos olharam pela janela, cada um com os seus próprios pensamentos a ver nascer o dia enquanto o comboio continuava o seu caminho. E de repente Sue lembrou-se daquele dia em que um homem ouvira-a cantar fora da sua janela. Ela contou-lhe o que se tinha passado concluindo:
   - Aquele sim levava-me ao altar. Era lindo, barba perfeita...
   - Aposto que ele agora passa todos os dias pela tua casa a ver se te apanha de novo.- disse ele rindo.
   - Achas? Claro que não. Aposto que já nem se lembra. Provavelmente nunca mais nos vamos ver.
   E a viagem continuou sem qualquer acontecimento de maior interesse. O tempo passava e Sue acabou por adormecer encostada ao Sebastião, para acordar logo de seguida para mais um pesado dia de trabalho.
   Quando ela chegou a casa no fim do dia, esgotada, viu na janela da sala um vaso com uma linda planta de orquídea. May estava na cozinha a fazer o jantar.
   - Como é, compraste um orquídea?- perguntou-lhe Sue enquanto arrumava as suas coisas.
  - Eu? Claro que não, foi dada..
 - Eh lá... Teu soldado ofereceu-te uma flor? Que romântico.- disse-lhe meia trocista.
  - O Gonçalo não me oferece orquídeas. Parece que tens muito para me contar... Essa orquídea foi dada para ti.- respondeu-lhe rindo e ao mesmo tempo com um olhar que pedia explicações.
  -A mim?! O quê?


(Continua...)